FLOK Society: procomum no Equador (uma conversa com Michel Bauwens)

by Digital Rights LAC on maio 29, 2014

Flok1No passado mês de abris, recebemos na Colômbia uma visita de Michel Bauwens, fundador da Fundação P2P e Diretor de Investigação do projeto equatoriano FLOK Society. Bauwens organizou uma série de workshops e conferências em Medellín e Bogotá, e quando passou pela Fundação Karisma, conversamos sobre o projeto FLOK e o que uma aposta em um modelo econômico baseado no procomum significa, no contexto latino-americano.

 

De Pilar Sáenz e María Juliana Soto. Com a colaboração de Carolina Botero. Fundação Karisma.

A FLOK Society (Free Libre and Open Knowledge) procura ser “um processo participativo e global que permite definir e concretizar políticas e princípios reguladores que assegurem o êxito de um modelo de sociedade que produz o conhecimento aberto e comum”, em outras palavras “mudar a matriz de produção para uma economia social de conhecimento comum e aberto no Equador”.

Sem dúvida uma aposta política e econômica equatoriana, é um projeto do Instituto de Altos Estudos Nacionais (IAEN), em cooperação com o Ministério Coordenador de Conhecimento e Talento Humano, e a Secretaria Nacional de Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação. Trata de um tema de interesse para todos os ativistas do procomum, que puderam participar de um processo participativo de investigação e elaboração, que dará como resultado uma série de documentos de políticas públicas, debatidos no final de maio, na Cúpula do Bom Saber, onde vão se encontrar conhecidos ativistas e pesquisadores nacionais e internacionais.

A seguir apresentaremos partes da nossa com Michel Bauwens, depois da sua conferência na Universidade Javeriana no dia 30 de abril de 2014.

Fundação Karisma (FK): O que acontece com o projeto FLOK depois da Cúpula Bom Viver?

Michel Bauwens (MB): Depois da Cúpula deve haver uma parceria com as instituições do governo em 12 áreas de atuação, naqueles que eles comprometerem a fazer parte do projeto. Do meu ponto de vista, isto é um avanço, uma boa notícia, porque nunca houve antes um governo que teria implementado um projeto de transação como este.

Por isso, sou moderadamente otimista sobre o que irá acontecer. O mais importante para mim, como ativista global, é que se estabeleça um parâmetro mínimo mundial, não é mais uma questão de organizações de base, mas se tornou um fato político e isso é uma grande noticia, que eleva o impacto do procomum e dos movimentos P2P.

O que eu mais gostaria ver é o FLOK se tornar em uma plataforma política global e aberta para fazer política participativa neste campo. Gostaria de imaginar, por exemplo, FLOK Medellín ou FLOK Seul. Ter algum tipo de equipe dizendo “já se tentou no Equador, porque não tentar em Medellín, Seul ou em uma província”. Eu acho que o processo foi bom: reunir gente, investir em salários de modo as que as pessoas possam ganhar a vida pensando em políticas, participação aberta, montando propostas, mantendo os compromissos com as autoridades para avançar este bom modelo. Para mim as ideias são tão importantes quanto os resultados, sair nas redes e ter referências. Não significa estar certo, ter tudo bem feito, mas pelo menos há uma referência, algo contra o qual as pessoas podem reagir e construir a partir daí.

F K: O que é que falta para criar, por exemplo, um FLOK Medellín?

M B: Concretamente, vontade política, um prefeito que o queira fazer, consiga fundos e fazer acordos sobre o futuro para, em seguida, os transferir para a legalidade. Em outras palavras, existem dois modelos: um modelo pontual, e um mais holístico, e nós acreditamos mais no último. Por exemplo, não acreditamos que possa se dizer “coloquem banda larga” se isto não vem acompanhado de alfabetização e cultura cooperativa. Sem esta cultura, temos professores que fecham os “compus” em uma sala e ficam com as chaves, isto não funcionará. Se você trabalha simultaneamente com a capacidade dos professores, dos estudantes e também traz computadores, câmeras de vídeo, a banda larga, então realmente há uma infraestrutura, e assim é mais provável que funcione. Para mudar um país, temos que olhar para tudo ao mesmo tempo. Não é que uma pessoa tenha que fazer tudo, estamos falando de mobilizar um país, e em um país há suficiente gente para fazê-lo se há vontade política.

F K: Qual você considera ser a aposta política do Equador, ou qual é o lugar que quer ocupar na região ao fazer um projeto como FLOK Society?

M B: O problema é que não sei como pensam, realmente só sei o que dizem, mas certamente há várias respostas. Mas acredito sim que isto dá ao Equador uma identidade distinta e uma forma de se reafirmar na política da região. O Brasil tem a sua forma particular, a Venezuela tem a sua forma particular e, fazendo o FLOK, o Equador passa a adotar a estratégia regional de adquirir uma identidade própria e influência com os seus vizinhos.

FK: Como é que as pessoas se envolvem no projeto FLOK?

MB: Tivemos uma primeira fase na qual houve participação; temos uma metodologia que aplicamos com a qual tivemos algum êxito. Agora temos uma segunda fase em que os documentos estão online, agora as pessoas podem deixar comentários e fazer críticas. A terceira fase será a Cúpula com representantes do governo e experts internacionais. Então, há espaço para participação em todas as fases, mas a resposta não tem sido enorme.

FK: O que significa o projeto FLOK para a região?

MB: Se o virmos da ótica do software livre, é só um primeiro esboço, aberto a escrutínio, a ser desenvolvido. 

Para conhecer mais sobre FLOK Society convidamos vocês a consultar os seguintes links:

http://floksociety.org/wp-content/uploads/2014/01/presentacion_FLOK-Society.pdf

http://floksociety.org/

http://cumbredelbuenconocer.ec/

* Fundação Karisma é uma organização da sociedade civil que apoia e difunde o bom uso da tecnologia em ambientes digitais, em processos sociais e políticas públicas na Colômbia e na América Latina