Juventude da Internet: a voz que necessita ser escutada
by Digital Rights LAC on abril 8, 2016
O programa Youth@IGF 2015 começou com uma chamada a qual motivou os jovens entre 18 e 25 anos, da região da América Latina e o Caribe, a participar de um curso que consistiu em quatro semanas de aprendizagem online, encaminhado e fornecido pela Internet Society (ISOC) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.BR). O curso não foi somente teórico, mas se foi dada uma forte interação entre os próprios jovens, participando em chats semanais e discussões em cada um dos grupos de trabalho.
Por Adela Goberna, Angélica Contreras, Alexandre Gonzales, Alyne Silva, Louise Dias, Daniela Viteri, Diogenes Filho, Élisson Pinto, João Souza, Luã Cruz, Mariel García e Viviane Vinagre*
Na primeira fase, foram abordados os princípios básicos da Governança da Internet e também tivemos a oportunidade de aprender as experiências e pontos de vistas dos demais companheiros do curso. Na segunda fase, tivermos a possibilidade de assistir à reuniões online com especialistas em temas como privacidade, segurança, cibersegurança, entre outros.
Finalmente, depois de um processo que puseram a prova nossa perseverança e capacidade para interagir com jovens de outras partes do continente, estudar temas referentes à Governança da Internet e refletir e analisar diversos temas, foram selecionados 73 jovens para participar do X Fórum de Governança da Internet que se realizou em João Pessoa, Brasil.
Longe de ser uma experiência meramente formal, o programa Youth@IGF significou, para muitos dos participantes, a entrada em um ecossistema completamente novo e a descoberta das estruturas que suportam a operação da Internet e contribuem para o seu desenvolvimento e regulação. Isso deve fazer-nos pensar sobre como os jovens, que são os usuários de Internet mais ativos, ainda seguem tão desconectados de temas como a governança ou mesmo os mecanismos que fazem possível a conexão diária na rede.
Por outro lado, uma vez realizada a seleção dos participantes para assistir o Fórum de Governança, ficou claro porquê é tão difícil conseguir que mais jovens se envolvam nesses espaços. O custo econômico e logístico de locomoção dentro da mesma região é tão grande que, sem apoio, é quase impossível. É muito difícil articular esforços, ou pior, tentar levar uma posição construída de nossa perspectiva para as sessões mais relevantes do evento.
No dia do encerramento do Fórum foi aberto os microfones para que os participantes pudessem expor suas conclusões, as exposições foram em sua maioria de jovens representantes de diferentes países e comunidades. O foco comum dos oradores foi o pedido de uma maior inclusão e colaboração dentro da Internet, de seus debates e a participação efetiva na tomada de decisões.
“ Todos se levantaram para tomar o microfone e pedir espaços” (mas) já estavam fazendo o mesmo! “ comentou uma assistente do Fórum ao terminar. Nesse sentido, nosso papel deve ser o de apontar, opinar, falar claro sobre o que cremos que está errado, e sobretudo, colaborar e seguir construindo. Essa foi a chave no Fórum e a evidência no sucesso de iniciativas como o Programa Youth@IGF 2015 que uniu pela primeira vez os jovens da América Latina e do Caribe em um objetivo comum: somar o diálogo sobre a Governança e questionar a mudança. E isso, sem mencionar mais uma conquista: a criação do Observatório da Juventude.
Observatório da Juventude
O Observatório da Juventude, reúne quarenta jovens de diversas nacionalidades, participando ativamente desse projeto com propósito de atender a necessidade de identificação e inclusão dos espaços para participação da juventude em fóruns, workshops e outros eventos, de caráter nacional e internacional, no que tange à Governança da Internet, além de servir como apoio para as responsabilidades que os jovens precisam assumir na participação da criação de uma internet justa.
Existem duas frentes nas quais o Observatório deve atuar: em primeiro lugar, é preciso compreender a complexidade de questões humanas, sociais e políticas que se envolvem com elementos técnicos do conjunto da rede. Em segundo lugar, se faz necessário, através de um esforço equivalente, “traduzir” para a linguagem não especializada, conforme as múltiplas realidades da juventude Latino Americana e Caribenha.
Tendo em vista estes obstáculos, o Observatório aspira expandir-se, ao passo que se constituirá como uma plataforma aberta à participação e envolvimento de colaboradores interessados, como um canal de debates e dissipação das questões relacionadas a Governança da Internet. Contando com o exemplo das experiências deste mesmo ecossistema – Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), NetMundial, ISOC, Fórum de Governança da Internet (IGF), entre outros – reconhecendo nelas seus avanços em termos de participação, transparência e limitações.
O Observatório prevê, portanto que haja duas principais atribuições: A primeira consiste em realizar publicações periódicas – artigos, livros, cartilhas, relatórios – de atividades ou trabalhos gerenciados por seus membros, disponibilizando seu acesso na própria plataforma que encontra-se, atualmente, em planejamento de projeto e análise de requisitos . A segunda, por sua vez, teria em vista uma aproximação do Observatório com as instituições de ensino dos países da América Latina e Caribe, e no futuro com outras regiões do globo, oferecendo cursos e seminários para discussão acerca das questões locais no cerne da Governança Global da Internet, garantindo através dessas vertentes uma presença em, pelo menos, dez (10) países da América Latina e Caribe de início.
Com objetivo de incentivar a participação dos jovens de maneira a disseminar os temas de governança da internet, promovendo debates e explicações mais voltadas ao contexto jovem sobre os mesmos, o Observatório da Juventude, tem ainda a pretensão de aumentar o número de jovens participantes junto as contribuições nesse universo. Acima de tudo, entende-se como imprescindível a necessidade de compreender as mudanças que a rede está passando, tomando ciência que a Internet de hoje é consideravelmente distinta da de sua origem, assim como é esperado que seja no futuro, resguardando o necessário papel da região nessa transformação.
Ao que se refere ao futuro da juventude na governança da internet, espera-se que, o Observatório, cumpra o papel de compartilhar conhecimentos a respeito do tema. Ao passo que se consolide um espaço colaborativo de diálogo e debate, favorecendo assim uma maior interação dos jovens, além de proporcionar-lhes colaborar em discussões necessárias para a garantia de uma Internet livre, inclusiva e universal.
Qual é nosso papel no futura da Internet?
Nós, os jovens latino-americanos, sempre fomos caracterizados por romper as estruturas e quebrar aqueles paradigmas que pensávamos serem fixos e estáticos. A Internet não é uma coisa inerte, alheia à realidade, muito pelo contrário, é impactada diretamente por esse comportamento que, quando exercido por um sujeito importante, acaba resultando em mudanças diretas em suas bases.
O fato de que os jovens são atores relevantes para a Governança da Internet é uma premissa inquestionável na atualidade. Ainda assim, por várias razões, ainda não pudemos nos consolidar como um grupo de peso dentro do ecossistema da Internet. Por isso é que perguntamos, onde estão os jovens?
Por um lado, embora os jovens estejam muito perto da Internet, a participação neste ecossistema encontra-se distante. A participação dos jovens encontra sérias limitações para avançar e posicionar-se como tal, principalmente no que se refere ao fator econômico. A realidade demonstra que sustentar-se no sistema de tomada de decisões que moldam a Internet envolve recursos que nem sempre estão ao alcance dos jovens. Mas, enquanto existirem formas alternativas para termos um papel ativo, devemos, como jovens, advogar pela abertura de novos canais que permitam levar e empoderar a nossa voz.
Por outro lado, um outro obstáculo que devemos superar para gerar futuras oportunidades para jovens latino-americanos é a falta de informação destinada ao público jovem que está começando a ser introduzido nessa temática. São poucos os espaços onde os jovens podem interagir uns com os outros e discutir questões entre pares. Normalmente, quando nos deparamos pela primeira vez com questões de Governança da Internet podemos nos sentir um pouco assolados pelo fato de não contarmos com espaços onde cometer equívocos é aceitável e faz parte de um processo natural de aprendizagem.
Além disso, a língua aparece como outra barreira que compromete as perspectivas de avanço dos jovens latino-americanos. A grande maioria dos espaços de governança são conduzidos em Inglês, um idioma que em nossa região não é majoritário. Será, então, nosso desafio conduzir debates em nossos idiomas e poder levar aqueles que surjam fora da nossa região.
Finalmente, estas questões como a falta de abertura para a participação juvenil em debates, ausência de capacitação sobre assuntos relacionados à Internet e barreiras linguísticas são obstáculos que temos a intenção de transpor, entendemos que dessa forma poderemos empoderar os jovens latino-americanos, para que estes comecem a criar de forma independente suas próprias ferramentas de mobilização em suas respectivas regiões.
Então, onde estão os jovens? Estão aqui e aqui ficaremos. Os jovens podem ser o futuro, mas fazem parte do presente, havendo, portanto, uma necessidade de construir agora o nosso futuro. A internet é uma ferramenta aberta que transcende e potencializa nossas ações e tal luta por sua liberdade e neutralidade deve ser mantida, sendo este conceito de Internet é o qual, nós, os jovens latino-americanos, queremos compartilhar com o mundo.
* Se você está aqui, convidamos-o a conhecer-nos e a ouvir nossas vozes.
Imagem: IGF 2015, por Janine Moraes, Ministério da Cultura (CC-BY 2.0)